20 abril, 2012

Esperança nas Escolas?

(ou: Discursos para usar em amigas bichas tristonhas)


«No outro dia fui a uma escola dar uma sessão sobre identidade de género e orientação sexual a um conjunto de miúdos dos 15 aos 22. O normal, portanto, para este tipo de sessões que a rede ex aequo faz por todo o país. Mas esta escola cá em Lisboa foi um bocadinho diferente.
Quem nos recebeu foi uma professora que já conhecia o nosso trabalho e que depois de uma breve conversa me explicou que era uma lésbica assumida, que tinha inclusive dois filhos com a sua companheira (já não me lembro se eram casadas ou não) e que isso não era segredo - as pessoas, dizia, não tinham problema nenhum com isso na escola.

Hem?
Uma pessoa até fica assim meia incrédula e parva quando ouve isto. Mesmo eu, por muito positivo e optimista que já seja, ainda fico a sorrir com alguma incerteza na cara. “Mas isto passa-se a sério no meu país?”


"Sim", responderam-me os olhares dos alunos, não havia ali grandes desconfortos.

Eu explico.
Convidaram-nos no contexto de um evento que celebrava a "(in)diferença" e onde estavam presentes outras associações que representavam diferentes lutas sociais e diferentes minorias da sociedade. Os alunos eram encorajados a fazerem voluntariado e a terem um impacto positivo na sociedade através das suas acções. No meio das palestras e das apresentações dos alunos houve, por exemplo, uma turma que fez uma dança em que duas raparigas representavam um casal lésbico e a sua luta pela aceitação. No meio da actuação deram até um beijo em palco e os alunos começaram todos a bater palmas. Miúdos dos 15 aos 22 a fazerem aquilo que nós, bichas cobardes, temos tanta dificuldade em fazer. Fabuloso, não é?

"Putos" a ensinarem a outros "putos" o quão tão iguais somos todos uns aos outros. E os colegas (e os outros professores) a verem-nos, a sorrirem e a acharem aquilo uma coisa inspiradora - palmas e entusiasmo! E eu de novo a dizer a mim próprio: wow!
E pronto, é isso.

Claro que ainda havia muita coisa para esclarecer em dúvidas e preconceitos ingénuos que tivemos a oportunidade de falar durante a nossa sessão - até porque é para isso que ela existe. Mas a falta de informação não é o mesmo que a hiper desinformação - isso é que é o perigoso. E enquanto se falar e enquanto houver curiosidade, estamos nós no bom caminho.

No fim do dia é como eu costumo dizer aos meus amigos que ainda vivem nos seus armários mais-que-profundos: Às vezes o mundo é muitíssimo complicado e terrivelmente difícil de mudar..

..outras vezes não.»

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