21 junho, 2015

Bicha Amiga Que Não Vens à Marcha... | Discurso Marcha do Orgulho LGBT de Lisboa 2015



O nosso discurso este ano:

"Bicha amiga que não vens à marcha. Esta mensagem é para ti.
Que franzes os olhos quando te convidamos para te juntares à luta pelos direitos que também são teus e que reviras os olhos quando nos ouves falar de discriminação.

Bicha amiga, acredita quando te dizemos, muitas de nós já estivemos desse lado.
Quando ainda acreditávamos que a melhor forma de nos sentirmos fortes era fingir que a discriminação não existia. E que de facto o problema não era era a injustiça, mas antes os que nos davam mau nome.
Mas bicha amiga, que mau nome é esse que nós te damos?

Se perderes dois segundos a olhar na nossa direcção, e observares o mar de pessoas fabulosas e diversas que compõem esta marcha, diz-nos, o que há a recear em mais e melhor liberdade?

De que tens medo ainda bicha amiga? Que fantasmas são esses que ainda te proibem de perceber que diferente não é sinónimo de mau, que normal é apenas uma variável estatística e que mais expressões e diferentes formas de organizar os afectos apenas nos proporcionam mais caminhos para chegarmos à felicidade?

Bicha amiga que ainda não aprendeste a respeitar pronomes e a ouvir antes de falar. Explica-nos se faz, de facto, sentido insurgires-te contra o feminismo e no entanto constantemente interromperes as mulheres quando falam à tua volta e duvidas constantemente do seu mérito.

Que luta será esta se não questionarmos todos os papeis que nos impõem na sociedade?

E bicha amiga. Era casar que querias? Era o mais importante? Mais importante que os direitos das nossas crianças, mais importante que a autonomia face ao nosso corpo? Bicha amiga, mas que raio é o casamento senão uma compulsão monogamica criada para subjugar a mulher ao lugar de objecto a ser passada de pai a marido? É isso que é ter igualdade? Brincar aos heteros integrados em vez de aprendermos as diferentes formas de gerir afectos e relações de forma mais livres e sincera?

Bicha amiga, compreende que por não sofreres discriminação directa, escondida numa fachada de privilégio, isso não invalida a experiência quem não pode e não se quer esconder e luta todos os dias para levar uma vida o mais genuína possível.
Compreende que podemos ser simultaneamente discriminados e opressores, e activamente propagarmos comportamentos que nos oprimem.

Mas bicha amiga, esta é uma mensagem de esperança. É uma sugestão para que pares, penses e olhes à tua volta. Que vejas para além do Grindr e do Trumps e repares na violência que ainda existe. Que te questiones sob a forma como tantas vidas ainda são dificultadas.

Que te questiones sob a forma podes aprender com todas as bichas amigas à tua volta. E sobre o papel que tens tu também na tua própria libertação.

Bicha amiga, desejo-te apenas uma vida mais genuína e livre. Contra a tua, a minha e a nossa violência. Está na altura de levantares a voz. Bicha amiga, Quebra o silêncio e junta-te finalmente a nós."

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