"Leitor de bom senso - que abres curiosamente a primeira pagina d'este livrinho, sabe, leitor - celibatario ou casado, proprietario ou productor, conservador ou revolucionario, velho patuleia ou ligitimista hostil - que foi para ti, que elle foi escripto - se tens bom senso!" ¹
Se há coisa que me tira o sono como poucas outras coisas neste país são capazes de o fazer - que fique aqui notado - essa coisa são as Bichas Cobardes.
Vamos falar um bocadinho sobre esse fenómeno sociológico, vamos?
E o que é uma Bicha Cobarde (BC)? - perguntam vocês, aí inquietos. Ora bem, uma Bicha Cobarde é um animalzinho doméstico, daqueles pequeninos e do mais chato que há; deitam muito pêlo e ladram e ladram e ladram até estragar o ambiente de tudo à volta. Há quem lhes chame coisas melhores, mas uma Bicha Cobarde é uma pessoa insegura e infeliz com a sua sexualidade. E estúpida.
(Tem a Bicha Cobarde razões para se sentir insegura na sua sexualidade? Provavelmente claro que sim, mas essa não é a questão corrente.)
Uma Bicha Cobarde é, portanto, um homem ou uma mulher homossexual (ou bissexual, ou transexual ou o que mais haja disponível) que jura a pés juntos que não o é (e não é, e não é, e não vale a pena insistir nisso, porque é mentira).
Aliás, uma Bicha Cobarde está, ao contrário disso, "muito confortável e esclarecida com a sua sexualidade; vive bem com ela e, que saiba, não tem problema rigorosamente nenhum" - embora, de uma forma macabramente contraditória, viva rodeada de factos que desacreditam essa bonita retórica.
As únicas pessoas na vida da Bicha Cobarde que sabem da sua verdadeira sexualidade são apenas os seus (poucos) amigos gays e as suas (muitas) quecas esporádicas (ah, e aquela-amiga-hetero-muito-curiosa-que,-por-acaso,-descobriu-tudo-quando-os-encontrou-uma-vez-na-cama).
Todo o resto de pessoas da vida da Bicha Cobarde - familiares, amigos heteros, colegas de trabalho, animais de estimação, amigos imaginários, paixões platónicas (e o que mais por lá haja) - não fazem a mais pequena ideia de que o que a Bicha Cobarde efectivamente gosta é de chupar uma ocasional pila ou lamber uma eventual vagina (ou.. ou..), ao contrário do que faz, incansavelmente, por parecer.
Mas isso "não é problema nenhum" reclama também desde já a Bicha Cobarde; até porque esse "é apenas um facto da sua intimidade que não precisa de ser partilhado com o mundo todo". E nós vamos já ver porquê.
E não querendo perder tempo sem insultar este fenómeno sociológico tão-tão interessante, vejamos desde já qual é o primeiro facto ridículo de uma Bicha Cobarde:
Não perceber que a sexualidade não se resume apenas às pilas e às vaginas que vai lambendo ou chupando.
Não perceber que a sexualidade não se resume apenas às pilas e às vaginas que vai lambendo ou chupando.
Para uma Bicha Cobarde, gostar de pessoas do mesmo sexo é igual a ir para a cama com pessoas do mesmo sexo. Ou, ocasionalmente para não ficar mal, ficar amigo de uma para poder tentar então ter uma "relação" séria.
E aqui coloca-se relação entre aspas porque é, antes de mais, ridículo dar-se esse nome a coisas que estão escondidas, que só funcionam dentro de carros e casas fechadas, que não são partilhadas, admitidas ou, sequer, mencionadas à família e às pessoas que realmente importam na vida de uma pessoa e com quem se passa a maior parte do nosso tempo. A essas coisas chamamos-lhes antes relações imaginárias porque, aos olhos de alguém que não saiba o que se passa, é essa sempre a única conclusão possível.
-Eu já te disse que sou comprometido, Adelaide!; Tenho uma "pessoa"..
-Não duvido, Carlos; Vá, passa-me lá o esparguete e cala-te.
☠
Uma Bicha Cobarde não acredita que a sexualidade é uma coisa que se reflecte em tudo na vida de uma pessoa: nas suas aspirações a longo-prazo, na sua relação com o mundo, e até na relação que tem consigo própria. E ao achar que pode escondê-la e fechá-la a sete chaves de tudo o que é relevante e externo na sua vida, no longo prazo, torna-a apenas em algo invariavelmente patético e doloroso. Triste.
Ainda mais quando a verdade é que as pessoas têm tendência para terem relações monogâmicas estáveis e isso, às vezes, até lhes dar para quererem ter/adoptar filhos. Que maluqueira, não é? E é claro que não dá para contornar de forma feliz e saudável essas questões das relações efectivamente sérias (como actividades em conjunto [fora de casa], presença em eventos [com outras pessoas], conhecimento das família alargadas e toda uma troca de contactos a dois difícil de ignorar.
Uma relação séria entre duas pessoas não é só entre essas duas pessoas; quando é tudo aquilo que deve ser, é entre os dois mundo que essas pessoas tocam e representam. Não?
Uma relação séria entre duas pessoas não é só entre essas duas pessoas; quando é tudo aquilo que deve ser, é entre os dois mundo que essas pessoas tocam e representam. Não?
E portanto uma Bicha Cobarde só pode tender, com as suas atitudes e posturas desligadas e auto-discriminatórias, a ser nisto uma pessoa infeliz e frustrada. Mas é tudo uma questão de perspectiva, amiga, Bicha Cobarde, não te deprimas já.
☠
Quando uma Bicha Cobarde diz que não está interessada em lutar pelo seu direito ao casamento, à adopção, na mudança das politicas discriminatórias do Instituto Português de Sangue, em defender alguém que é vitima de violência por ser LGBT, ou quando simplesmente não levanta a voz contra um comentário homofóbico e ofensivo; [e aqui qualquer ser humano pode também ser apontado, mas a BC não tem a desculpa da ignorância, ela sabe sempre do que é que se está a falar] O que ela está realmente a dizer é que essas são coisas que não merecem ser defendidas porque são coisas que estão bem como estão, e que portanto, devem continuar a acontecer.
Mas a verdade é que as razões para esta inacção-silêncio vão muito além da simples vergonhosa inércia e medo - uma Bicha Cobarde "à séria!" - e retórica à parte - é efectivamente incapaz de justificar para si própria a necessidade destes direitos.
E não é só porque não quer casar ou ter filhos; nem tão pouco porque já deixou de acreditar que isso alguma vez fosse acontecer e, portanto, poder admitir superficialmente que não os quer nem precisa.
Na maior parte dos casos, a Bicha Cobarde já interiorizou que, de facto, não os merece; Que os gays dão maus pais (e usam os argumentos bonitos e ridículos dos papeis de género) e que o casamento é uma coisa religiosa (etc, etc). E por muito bem que escondam com quem vão para a cama e os seus outros detalhes afectivo-sexuais de todo o mundo, nestes assuntos as Bichas Cobardes não gostam de se manter caladas - e vão propagar aos quatro ventos como está tudo bem como está - especialmente se confrontadas com alguém disposto a lutar por estes direitos.
De facto, de um ponto de vista resumido, uma Bicha Cobarde insiste em fazer parecer que a única coisa que precisa é da privacidade necessária para poder foder as pessoas que quer na calma escuridão da sua casa sem ter de se justificar a seja quem for.
E nada mais parece interessar-lhe.
E nada mais parece interessar-lhe.
☠
Mas passemos, então, àquele que aparenta ser o verdadeiro grande problema da Bicha Cobarde - por não ter ainda aprendido a lição mais básica de todas sobre a discriminação e o preconceito de que foi alvo a vida toda:
Todas as formas de discriminação e preconceito estão, fundamentalmente, erradas e não devem ser toleradas.
(E isto inclui, claro está, a discriminação contra algo que, queiramos aceitar ou não, faz parte de nós.)Mas esta ainda é uma questão complicada para a Bicha Cobarde. E o que ela acaba por fazer é ter uma atitude muito mais "eficiente" e muito menos "romântica", não sabendo no entanto que isso só funciona (e muito, muito mal) no curto prazo.
O que a Bicha Cobarde faz é o seguinte.
Como não consegue viver bem com a sua sexualidade nem defendê-la, quando é confrontada com preconceitos e discriminação a sua atitude é.. alinhar com ela.
Entra no jogo, não lutando contra a discriminação mas redireccionando-a contra outros gays.
Entra no jogo, não lutando contra a discriminação mas redireccionando-a contra outros gays.
(Até porque a BC não é "efectivamente" gay. A BC, no fundo, é apenas um hetero que, por acaso, prefere chupar pilas ou lamber vaginas. E isso é COMPLETAMENTE diferente.)
A BC cria então uma ideia imaginária de que está tudo bem porque a discriminação que se faz contra ela não é efectivamente contra ela - é contra os outros "verdadeiros" gays; Os gays maus e perversos e diferentes dela: AS BICHAS NOJENTAS, como lhes chama. E a trama complica-se.
Nessa ideia que a BC cria, todos os pormenores se encaixam. Ela vai buscar toda a informação errada que alguma vez ouviu sobre a comunidade gay (e que sentiu na pele) e junta tudo naquilo a que chama também O ESTILO DE VIDA DAS BICHAS NOJENTAS. E é quando a magia acontece.
AS BICHAS NOJENTAS são então tudo o que há de errado na sociedade: são promiscuas, são mentirosas e falsas, são feias (embora usem muita maquilhagem e façam plásticas), são estúpidas, tudo o que fazem é para chamar a atenção, não têm sexo seguro, não têm religião, deixam o tampo da sanita levantado, traiem os companheiros, têm SIDA, não conseguem ter relações duradouras, são femininas (se forem homens) e masculinas (no caso de serem mulheres), são pedófilas, querem transformar toda a gente em drag-queens desavergonhadas consumidoras de drogas duras (e etc, etc, etc) - o limite é a imaginação. E as Bichas Cobardes muita imagiação.
A ideia final, claro está, é uma coisa assustadoramente abominável; tão abominável como foi, com certeza, passar todos estes anos a sentir-se mal consigo próprio por ser chamado de paneleiro ou fufa (ou recear que o fizessem) ou por ter sido mal tratado ou mal falado ou que mais... O fantasma ganha finalmente nome. E, valha-nos-Deus-nosso-senhor, é um fantasma grande e feio.
Fica assim, portanto, justificada toda a discriminação que se abata sobre a Bicha Cobarde: é justa!, embora contra a pessoa errada. E esse é o único problema da discriminação aos olhos da Bicha Cobarde: estar a ser apontada a ela quando devia estar a ser apontada aos outros gays.. AS BICHAS NOJENTAS.
AS BICHAS NOJENTAS é que são o problema que a sociedade tem com os gays. AS BICHAS NOJENTAS é que são o problema.
E a Bicha Cobarde, que não sendo má pessoa e sabendo disso; se a chamam de coisas más, é porque, por engano, só se podem estar a referir ÀS BICHAS NOJENTAS, essas filhazinhas da mãe.
"Elas" são a razão pelo qual ela foi discriminada e não pôde levar a vida que quer! AS BICHAS NOJENTAS deviam deixar de existir!
(Não sabe a Bicha Cobarde, no entanto, que as BICHAS NOJENTAS só existem na sua cabeça.)
(Não sabe a Bicha Cobarde, no entanto, que as BICHAS NOJENTAS só existem na sua cabeça.)
☠
Acontece por vezes que a Bicha Cobarde acabe por conhecer outras Bichas Cobardes como ela, e que até fiquem amiguinhas forever. E faz-lhe bem, claro, é saudável.
Mas mesmo nesse caso, a Bicha Cobarde continua incapaz de perceber que se uma outra pessoa gay que ela conheça não encaixe no perfil de BICHA NOJENTA que ela criou, é única e exclusivamente por um feliz acaso do universo; "Elas", afinal de contas, "andem" aí. E ai-da-primeira-vez que ela repare ou ouça uma pessoa que não seja tão cobarde como ela! Irá furiosamente apontar-lhe o dedo nervosa e identificá-la às autoridades competentes como bem manda o bom senso cristão (e não só). Mesmo que afinal de contas (e muito provavelmente), seja "apenas" um hetero afeminado.
Mas Bicha Cobarde não quer saber. Ela odeia tudo o que lhe pareça remotamente BICHA NOJENTA-like. ODEIA. (Será possivelmente também por razões relacionadas com isto que as BC têm um índice de "doenças nervosas" muito mais elevado - supõe-se)
E isto é importante: quanto mais a Bicha Cobarde odiar as BICHAS NOJENTAS, mais fica com a noção de estar cada vez mais próxima dos heteros e do seu (idealizado) estilo de vida saudável - oposto aquele dito dos gays.
Quanto mais a Bicha Cobarde critica e aponta o dedo ÀS BICHAS NOJENTAS, mas hetero a Bicha Cobarde pensa que é.
Fica tudo facilitado e a BC (superficialmente) feliz. Formidabile!
Fica tudo facilitado e a BC (superficialmente) feliz. Formidabile!
Mas há mais do que isso. A BC, ao assumir automaticamente que qualquer pessoa que não seja tão cobarde como ela é UMA BICHA NOJENTA (com tudo o que de mal o conceito representa), ela demonstra um esforço por activamente desacreditar todo e qualquer gay que não se esconda tão furiosamente como ela. Aos olhos da Bicha Cobarde, "gays não invisíveis" são iguais a BICHAS NOJENTAS.
E mesmo que esses gays sejam pessoas sobre as quais a Bicha Cobarde não tenha nem uma merdazinha de uma informação; e mesmo que essas pessoas sejam, de facto, honestas e unicamente interessadas em manifestar-se pelos direitos LGBT de forma politica e civilizada (e aqui o autor admite uma pontinha de estereotipanço) - isso não interessa nada-nada-nadinha;
Porque toda a gente sabe que UMA BICHA NOJENTA só quer é chamar atenção sobre si mesma, andar a mostrar o rabo na rua, abanar bandeiras em festas e a dar linguados em frente a velhinhas e criancinhas, chocando-as com o seu "estilo de vida" decadente e nojento. Nada mais. Ah, e claro, espalhar SIDA.
(E não que interesse saber que o grupo com maior incidência percentual de transmissão de SIDA em Portugal sejam os heterossexuais..)
☠
Uma Bicha Cobarde jamais irá a uma manifestação gay ou uma marcha de orgulho - infestadinhas que estão de BICHAS NOJENTAS! -, e nunca irá perceber que as únicas pessoas que lá estão não são as BICHAS NOJENTAS que ela tanto teme (que nem sequer são reais) mas apenas gays que não se odeiam nem se escondem de si próprios e que só querem os direitos que merecem.
É uma coisa confusa.
É uma coisa confusa.
Mas, tal como o resto da sociedade, a BC vai ler os jornais e procurar imagens d'AS BICHAS NOJENTAS que ela sabe que de certeza-certezinha andaram por lá. E assim que vir um único homem com um cachecol mais longo, uma bandeira abanada com mais fúria, uma mulher com cabelo mais curto, ou duas pessoas a fazerem algo INCRIVELMENTE ESCANDALOSO como darem a mão ou um beijo; a Bicha Cobarde vai rir-se por dentro e suspirar de alívio porque percebe então que efectivamente é verdade: SÃO TUDO UM BANDO DE BICHAS NOJENTAS!, e ela jamais se identificará com essa gente.
(Trumps?.. Não, isso não conta.)
(Trumps?.. Não, isso não conta.)
Mas é claro que os jornalistas vão procurar as coisas mais sensacionalistas em tudo o que são eventos LGBT - estúpidos como o mercado os obriga, e espetar na capa dos jornais o raio da única puta de drag-queen (no offense) que estava naquela manifestação gigantesca - É isso que vende.
Fica fácil para a Bicha Cobarde justificar o seu medo e ódio e perpetuá-lo ad eternum. It's a hard knock life, after all.
☠
Mas há que se lhe dar algum crédito, porque uma Bicha Cobarde gosta, no entanto, de se fingir filosófica. E questiona-se muitas vezes sobre como ser possível que as BICHAS NOJENTAS tenham "orgulho" em ser BICHAS NOJENTAS - "para andarem para aí a manifestar-se que nem umas malucas para cima e baixo da Avenida".
É uma coisa confusa, Bicha Cobarde, não tens de ficar zangada!
A Bicha Cobarde não percebe (e não percebe e não percebe) que talvez o orgulho exista como necessária oposição à vergonha que todo o mundo (e ela própria) impingem neste grupo. Que não, não é verdade, não é o mesmo que ter orgulho hetero; e não, não é verdade, não é o mesmo que ter orgulho branco. Not even close. Que isso é apenas ignorância de uma classe privilegiada.
E que se os gays lutam por direitos que são básicos e que estão na constituição, só têm é de ter orgulho por sobreviverem e serem pessoas felizes no meio de tanta adversidade; ou não?
Mas não, a Bicha Cobarde não é assim tão inteligente, parece. Ela esquece-se de que os negros, as mulheres, os judeus (...) nas suas lutas sociais, também usaram (e usam) estas palavras e lutam com este mesmo empenho na busca dos seus direitos. Mas é difícil para a Bicha Cobarde perceber isto.
E, tal como esta, existem outras questões complicadas que a Bicha Cobarde também não consegue resolver na sua cabecinha:
Qual é o mal de uma pessoa ter um comportamento ou uma atitude - o mais ligeiro que seja - diferentes dos seus? E mesmo que uma pessoa seja de tal forma excêntrica e diferente de si e que consiga cair em todo-o-santo-estereótipo-alguma-vez-criado; que direito é que ela tem de lhe dizer que é menos pessoa se não lhe faz mal rigorosamente nenhum? Ai. Era a regra número um, não era?
A Bicha Cobarde não percebe que esse seu ódio-medo que tanto aplica automaticamente às pessoas que pensa serem diferentes de si (que nem sequer conhece) é exactamente o mesmo gás que alimenta o preconceito que a obriga a ser uma Bicha Cobarde em primeiro lugar. Quando é que a BC vai perceber que a única efectiva solução para estes problemas são a tolerância e o respeito? - o quebrar a corrente.
Mas é ouvi-las - Bichas Cobardes - a gritarem eufóricas e aflitas cheias de retórica que são os gays que não têm tolerância para com a igreja, para com os heteros e para com a família tradicional e as suas crianças! E tudo porque (apenas) se manifestam quando a igreja diz mais uma vez que eles são uma abominação e boicota todas as tentativas de os deixarem levar vidas normais.
As Bichas Cobardes conseguem ser bastante histéricas dentro da sua postura forçada. É dar-lhes, pelo menos, crédito por isso. Será com certeza cansativo.
☠
Nisto tudo, normalmente, a Bicha Cobarde está assustada-furiosa demais para pensar. E tal qual os restantes homofóbicos, ela gosta mais de apontar o dedo-gatilho a toda e qualquer iniciativa que lhe apareça à frente com um selo côr-de-rosinha. Mesmo quando, não se sabendo bem como, as BICHAS NOJENTAS até que conseguem que a legislação em Portugal mude, e permita, assim de repente, que as pessoas do mesmo sexo se casem! Filhos de uma grandecíssima meretriz - quem diria?! E a Bicha Cobarde que nem sequer era a favor disso..
Mas as Bichas Cobardes são preguiçosas - e nunca lutarão pelos direitos que secretamente deveriam ser seus. E não só por serem também pessoas irremediavelmente cobardes e incapazes de lutar pelos seus direitos; mas também porque - pensam - fazer isso seria ajustarem-se aos comportamentos das BICHAS NOJENTAS, e isso é do pior que há - ser como elas.
Antes o poço da morte que tal sorte.
Antes o poço da morte que tal sorte.
☠
Mas há um último factor importante - que era tão, tão (filha-da-mãe-)relevante que a Bicha Cobardolas percebesse.
A Bicha Cobarde foi incutida pela sociedade (como fomos mais ou menos todos) a pensar em coisas como o facto de um homem dever (!) ter os traços tradicionais de masculinidade e a mulher os equivalentes de feminidade, porque senão.. BICHAS NOJENTAS, ora pois claro.
Mas o importante aqui é que a Bicha Cobarde não percebe que as pessoas cujas características entram nestes moldes - e que são, à partida, os alvos fáceis da homofobia (quer efectivamente gays ou não) - não têm alternativa nem hipótese de o negarem/esconderem.
Essas são as pessoas que todos os dias sofrem a discriminação na pele. A sociedade identifica-as (mesmo que erradamente) como "gays" e elas são forçadas day-after-day a defenderem-se, a lutarem contra o preconceito e a discriminação, e a darem visibilidade a toda uma massa de LGBT's incapazes de lutarem por si próprios e pelos direitos que deveriam ser os seus.
Essas são as pessoas que todos os dias sofrem a discriminação na pele. A sociedade identifica-as (mesmo que erradamente) como "gays" e elas são forçadas day-after-day a defenderem-se, a lutarem contra o preconceito e a discriminação, e a darem visibilidade a toda uma massa de LGBT's incapazes de lutarem por si próprios e pelos direitos que deveriam ser os seus.
O que é ridiculamente contrário à suposta visibilidade das BICHAS NOJENTAS; que ninguém conhece, ninguém vê, ninguém sabe quem são; mas toda a gente jura a pé juntos que existem (mesmo sem um único exemplo real [E real não é nas revistas cor-de-rosa]).
O mais triste no meio de tudo é perceber que, no final de contas, estas pessoas (que nem sequer podem escolher ser Bichas Cobardes) e todas aquelas que escolhem não o fazer e não serem tão cobardes como porventura poderiam - são as únicas que, em último caso, permitem às Bichas Cobardes a possibilidade de deixarem de ser as Bichas Cobardes que são.
Mas as Bichas Cobardes (de tão cobardes que realmente são) nunca conseguem perceber isso porque na realidade
as Bichas Cobardes são, na verdade, as bichas nojentas.
__
¹ Eça de Queirós e Ramalho Ortigão, in As Farpas
Nenhum comentário:
Postar um comentário