Ora bem. No menu de hoje encontramos um artigo oh-tão-interessante pseudo gay friendly (!), que nos berra lá de cima, do seu patamar inclusivo e aceitador: "Amigas! Estamos do vosso lado! Entendemo-vos e conhecemos o vosso mundo! Damo-vos tempo de antena, amigas bichas! Regozigem!"
Mas analisemos a que custo vem este "tempo de antena «gay»" do ionline:
O artigo é sobre um senhor (David Barton) dono de ginásios e obcecado com design, adoração do corpo e - lê-se no texto - tudo o que é superficial e reluzente; mas hetero. Giro, não é? Diferente, já na premissa, das restantes noticias por esses media fora. Até parece, assim de relance, um artigo com valor que pode dismistificar aquela coisa da falsa-cultura gay e do estéreotipo da amiga bicha.
Mas então como é que se pode foder uma premissa tão boa como esta? O ionline e o senhor Barton explicam:
"Tenho todas as partes do gene gay menos a do desejo de ir para a cama com outros homens", diz. "Mas agrada-me que eles queiram que eu seja um deles."
cita o i o senhor Barton depois de parágrafos a convencer-nos das orgias nas saunas dos ginásios do senhor,
"Em 2005, um membro, Carlos Sora, processou o ginásio por "danos psicológicos", por ter presenciado cenas de sexo nos chuveiros e na sauna. Os blogues gay adoraram. Houve quem observasse que a queixa era equivalente a estranhar ver animais a acasalarem no jardim zoológico."
dos orçamentos bombásticos (que o levaram à falência) apostados em design ultra-chic reluzente, dance floor orientado e escandaloso
"O seu primeiro ginásio, numa cave deselegante de um prédio, foi um êxito imediato num bairro predominantemente gay. Sobre um fundo musical ininterrupto de house, iluminação de discoteca e espelhos de parede a parede, o ambiente era de culto do corpo. (...) Tornou-se o seu ginásio mais clube nocturno, com a sala dos pesos mergulhada em sombras teatrais, um DJ a debitar música de discoteca e um espectáculo de luzes na sauna."
e na sua infinita obcessão pelo corpo
"Com 1,68 m, Barton é tão tremendamente musculado que parece um cubo com uma cobertura de cabelo castanho espetado e envernizado, e os imensos bíceps bronzeados de uma cor sanguínea. Ao pescoço, um fio com lâminas de gilette, uma sweatshirt de tons garridos a revelar o contorno dos peitorais e botas de salto, com que fica à altura dos olhos das empregadas do ginásio."
Traços mais do assumidos por estas pessoas-que-sabem-tudo-do-que-é-a-sexualidade sobre 'O Ser Homossexual' (a.k.a., a bicha esculturada, tarada, designer e fã de Madonna).
É fabuloso como num artigo em que têm a prova de que estas características são coisas de indivíduos e não de sexualidades, usam-no para perpetuar o estigma e a desinformação. E a culpa é tanto do i, que conduz o artigo em grande parte nesse sentido (mais ou menos consciente, mas percebendo que é aí que está a piada da notícia); como do David Barton, que é, neste caso, mais uma Bicha Cobarde com a pequena excepção de ser heterossexual.
E o sentimento no final da leitura do artigo não é que ele é de facto heterossexual, não, é que o senhor é claramente gay; tão gay até que nos consegue convencer que por ser como é (bicha com todas as letras que a palavra implica) só pode ser devido a um factor (ter o gene gay) quem nem sequer se verifica.
Parabéns i, parabéns Bicha Cobarde David Barton, por nos continuarem a dizer todos os dias o que significa eu ser homossexual.
Artigo: " Os problemas do homem que levou os gays a saírem (com músculos) do armário" no ionline
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