17 janeiro, 2012

Pessoas simpáticas nunca são boa companhia. (Um post só um bocadinho mais sério que o habitual)


Ou, Porque é que eu me passo de vez em quando de forma aparentemente desproporcionada.

As discussões começam quase todas assim: pessoas aborrecidas a falarem de forma vaga sobre assuntos que não lhes dizem respeito até ao momento que dizem. 


Chateia-me muito isto.
Pessoas que falam sobre os outros (ou sobre os direitos dos outros, ou sobre a vida dos outros) que não percebem que mesmo que para elas aquilo possa ser só e apenas uma opinião banal potencialmente inofensiva, para aqueles cujas vidas e direitos estão a ser discutidos nunca o é; 
que é a sua vida, pois claro!, o seu papel na sociedade, o seu espaço pessoal e o seu valor enquanto pessoas.

E depois - pior - quando estas mesmas pessoas que falam sobre os direitos dos outros ficam muito surpreendidas (!) porque aqueles cujas vidas eles falam levam tudo "demasiado a peito" "numa mísera discussõezinha sem importância" e "agem como se os tivéssemos a atacar", "só porque discordamos num ou noutro ponto". 

Pois então é assim: convido-vos, meus caros, a passarem para o outro lado do sofá.

A serem confrontados com pessoas que comentam com o maior dos desprendimentos aquilo que acham que vocês devem poder ou não poder fazer na vossa vida privada (e pública), e que sugerem saber aquilo em que vocês são iguais aos outros e aquilo em que não são (e são menos); como se os vossos direitos e as vossas liberdades (de casar, de constituir família, de serem protegidos legal e socialmente, de amarem e de serem respeitados) fossem coisas pequeninas. Coisas giras na maior parte das vezes, mas noutras já apenas chatas ou incómodas com as quais os outros, contrariados, têm forçosamente de lidar (mas que nunca conseguem deixar de comentar).

E tudo isto só por causa de uma característica específica vossa potencialmente irrelevante sobre a qual tiveram poder de escolha nulo: a maravilhosa sexualidade/identidade de género - aka, mistério de proveniências genéticas, biológicas e sociais espectacularmente insondáveis. 
Uma coisa tão especialmente indiferente mas aparentemente importante o suficiente para vos colocar automaticamente nas mãos (e nas bocas) de um mundo inteiro de bocas foleiras e comentários fascinantemente superficiais que acham 'istos ou aquilos' e vos informam que "sim é tudo muito bem, mas espera lá, isso aí já é demais; isso já não, isso já não me parece nada bem; não concordo".
Como se de facto as pessoas pudessem concordar ou discordar da nossa vida pessoal e do nosso próprio potencial caminho para a felicidade.

E pior (mais uma vez), quando estas pessoas entram e saem destes assuntos e destas opiniões 'fascinantes' com a maior ligeireza do mundo; tecem os seus pensares de ontem à tarde sobre aquilo que os outros merecem, e depois logo que se cansam largam a conversa porque "já chega que já me está a chatear, estou farto, vamos antes falar de outra coisa" como se nada fosse. 

"E tu não precisas de ficar chateado só porque eu tenho uma opinião diferente da tua!" - ripostam, quando raras são as vezes em que não são só as "opiniões" que estão em causa, mas também um mar de considerações base sobre o valor das pessoas e como elas se comparam connosco.

Estas atitudes estão, claro, muito provavelmente relacionadas com a nossa velha amiga teoria da ignorância da classe privilegiada: É suposto eu perceber a falta de privilégio e de oprtunidades se nunca na vida os vivi? 

Enfim, paremos todos dois segundos que seja para reflectir um bocadinho sobre a impacto de todos estes bitaites sociológicos e façamos antes por perceber que nada é um assunto banal quando temos quem nos sugira sem grandes preocupações aquilo que nós merecemos na minha própria vida - e ainda mais importante - aquilo que nós não mereço. 

Só porque sim. "E ninguém tem nada que se chatear."

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